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Para citar:

OKADA, A. e RODRIGUES, E. A Educação Aberta com Ciência Aberta e Escolarização aberta para a Pesquisa e Inovação Responsáveis. In: Educação Fora da Caixa: tendências internacionais e perspectivas sobre a inovação na educação. (Org.) TEXEIRA, C. S. e SOUZA, M. V. (v. 4). São Paulo: Blucher, 2018. 41-54

RRI - 1. Introdução

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O mundo atual globalizado e em rede (Castells, 2005) apresenta transformações cada vez mais rápidas decorrentes das contínuas inovações científicas e tecnológicas e dos inúmeros “desafios globais”, por exemplo, meio ambiente, energia, saúde, alimento, recursos e segurança. 

 

A fundação Global Challenges destaca doze riscos relacionados com os desafios globais que ameaçam a humanidade, dentre eles, extrema mudança climática, catástrofes ecológicas, guerra nuclear e doenças epidêmicas (ebola, HIV) (Pamlin & Armstrong, 2015). 

 

Este cenário de contrastes drásticos do século XXI exige novas abordagens para que a ciência “com” e “para” a sociedade juntas possam desenvolver um futuro sustentável. Com este propósito, a abordagem RRI tem sido destacada para promover maior parceria entre os distintos representantes sociais com o propósito de possibilitar maior interação no planejamento, desenvolvimento e resultados das inovações científicas para atender as necessidades e expectativas prioritárias do presente e futuro.

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Um dos problemas atuais mais sérios centra-se na escassez de recursos. Uma parte substancial do programa de pesquisa da Comissão Europeia Horizon 2020 – um dos maiores do mundo - visa encontrar respostas para problemas como fornecimento de energia, o aquecimento global, a saúde pública, a segurança ou os recursos hídricos e alimentares, face ao rápido crescimento populacional, com estimativas de nove mil milhões de habitantes em 2050. O investimento na investigação científica e tecnológica prioriza salvaguardar a eficiência e a diversidade dos recursos para proteger o ambiente e lutar contra a pobreza e a exclusão social para criar uma sociedade melhor para os cidadãos. (Comissão Europeia, 2014).

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A educação contemporânea ocupa um papel central para a formação de estudantes, professores, profissionais e pesquisadores com práticas cada vez mais abertas, inclusivas e colaborativas que sejam apoiadas em princípios, metodologias e tecnologias acessíveis e transparentes. A parceria, interação e colaboração entre diversos atores da sociedade são elementos-chave para educação aberta, ciência aberta e RRI principalmente por promover a coaprendizagem, co-investigação e novas coautorias visando a co-construção de conhecimentos “para” e “com” a sociedade em busca de viabilidade e sustentabilidade (Okada, 2014).

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Devido ao alcance amplo das novas tecnologias, as pessoas têm um acesso extremamente maior à informação e à interação. O conceito de “Abertura” do inglês “Openness” tornou-se um propósito cada vez mais popular principalmente com a cultura digital. No entanto, este conceito não está apenas associado com o movimento de software livre ou conteúdo aberto. A noção de abertura emergiu muito antes da era digital para destacar uma filosofia inovadora e o fenômeno emergente que vem se ampliando cada vez mais através de várias iniciativas tais como: ciência aberta, universidades abertas, software aberto, produto aberto, conteúdo aberto, repositórios abertos, recursos educacionais abertos, educação aberta, comunidades abertas, aprendizagem aberta, código de programação aberto e democracia aberta (Okada, 2007; Rodrigues, 2015).

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O termo “ciência aberta” emergiu no final do século XVI e início Século XVII, e foi vital para a revolução científica. A disseminação ampla do conhecimento tornou-se possível com a tecnologia, desde Gutenberg com a revolução da impressão em 1439. E somente após cinco séculos, a circulação e co-construção do conhecimento tornaram-se muito mais abrangentes e rápidas com a revolução digital em 1950. O objetivo da ciência aberta é o conhecimento como “bem de acesso aberto” ao público, diferente da ciência comercial que visa lucrar com direitos do conhecimento como propriedade privada. No entanto, a "ciência aberta" e a “ciência comercial” orientada para pesquisa e desenvolvimento, com base em informações proprietárias, formam um par complementar de sub-sistemas institucionalmente distintos.

 

Um dos grandes desafios para a política pública tem sido manter estes dois subsistemas em equilíbrio produtivo adequado, para que as capacidades especiais de cada um possam amplificar a produtividade do outro (David, 2007). Entretanto, o acesso digital aberto à literatura científica, tal como hoje o conhecemos, é um fenómeno com apenas duas décadas. O primeiro periódico científico (“journal” em inglês) com acesso aberto para o público foi o Journal of Medical Internet Research em 1998.

 

A definição de ciência aberta ampliou-se muito mais transformando-se num movimento para tornar a pesquisa científica tanto os resultados como processo (dados, metodologias, instrumentos…) acessíveis a sociedade. A produção, disseminação e avanço do conhecimento são possíveis com o processo colaborativo entre os pares e as mentes curiosas como parte da investigação intelectual, do funcionamento da atividade académica e científica, mesmo antes de ela se ter cristalizada e institucionalizada nas suas formas atuais. A ciência normal, tal como definida por Thomas Khun, é cumulativa e baseada no acesso e utilização do conhecimento previamente construído.(Rodrigues, 2015 ).

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A iniciativa de conteúdo aberto tem beneficiado pesquisadores acadêmicos, autores, professores e estudantes, assim aumentando a circulação democrática de conhecimento aberto. Concomitante, com as tecnologias de acesso aberto, a aprendizagem aberta foi incentivada com o rápido crescimento de recursos educacionais abertos, repositórios abertos e cursos online abertos. A noção de abertura não se limita apenas à comunidade científica, mas está direcionada a todas as comunidades, instituições e organizações que visam a criação de conhecimento através de processos, metodologias, tecnologias e conteúdos amplamente abertos e disseminados em diferentes formatos, tais como texto, imagem, som ou vídeo (Willinsky, 2006).

 

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